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A PRESENÇA FEMININA EM SUITS: MUITO MAIS QUE “HOMENS DE TERNO”

Atualizado: 24 de jul. de 2024

Escrito por Danielle Gonçalves Passos do Nascimento - Coordenadora Geral do MaRIas IRI - USP e mestranda em Ciências Sociais na linha de Relações Internacionais e Desenvolvimento da Unesp-Marília.


De que forma Suits, a série mais assistida em 2023, nos Estados Unidos da América (EUA), dialoga com o empoderamento feminino?


Com 9 temporadas, distribuídas entre 2011 a 2019, Suits (em português Homens de Terno), consolidou-se enquanto uma série de televisão de drama legal estadunidense. A mesma foi criada e escrita por Aaron Korsh, com um elenco de atores e atrizes que ganharam prestígio ao longo dos anos, tais como: Sarah Rafferty, Gina Torres, Katherine Heigl, Gabriel Macht, Patrick J. Adams, Meghan Markle, e outros, e gravada no Canadá (mas ambientada em um escritório de advocacia fictício em Nova Iorque - Estados Unidos) (AdoroCinema, 2024). Em resumo, Suits é renomada não apenas por tratar de questões do mundo corporativo da advocacia, disputas de poder e de métodos de negociação, mas também por abordar, ainda que não seja o seu foco essencial, questões referentes ao papel que as mulheres ocupam na sociedades, em cargos de liderança, inclusive na esfera corporativa/do direito. 


Ainda nesse ponto central, é bem comum que existam textos e postagens nas redes sociais associando a série com Direito Corporativo, Simulações e o Método Harvard de negociação, a importância de saber se comportar e se vestir, da estrutura das faculdades de Direito dos EUA etc. Mas quantos conteúdos você já viu conectando a série com questões de gênero? E mais especificamente, com a presença e o empoderamento feminino? Isso sem cair na “armadilha” neoliberal de achar que a mera representação sozinha já é suficiente, de usar os argumentos de um melhor desenvolvimento e resultados econômicos melhores, de não estabelecer críticas ao sistema e de não fazer outros recortes além do de gênero — raça, classe, território etc também têm impacto. 


Não é à toa que, para Andrea Cornwall (2018), o empoderamento das mulheres deve ser pensado a partir de uma ótica de preocupação com as desigualdades existentes e persistentes e não com a simples intenção de “liberar potencial”. É de extrema relevância que esse empoderamento transforme estruturas para além de só incorporar mulheres no mercado de trabalho, sem necessariamente criticar as normas e práticas desiguais que o sustentam. Por isso, é preciso refletir por meio da consciência coletiva e não do/da indivíduo/a que alcança seu potencial. “Resgatar o empoderamento como uma estratégia feminista exige reformulá-lo de maneiras que reinscrevam uma preocupação em mudar as relações de poder estruturais que produzem desigualdade e opressão. Precisamos afiar ferramentas e conceitos para análise, e adotar táticas discursivas disruptivas que possam separar as narrativas popularizantes que tão poderosamente aproveitam o senso comum e os investimentos emocionais a serviço da contradição, parafraseando Stuart Hall” (Cornwall, 2018, p. 27).


Nesse sentido, trazemos a magnitude da representatividade de Donna Paulsen e Jessica Pearson, interpretadas respectivamente por Sarah Rafferty e Gina Torres. Donna e Jessica são personagens que inspiram e instigam outros personagens da série e telespectadores no âmbito pessoal e profissional. São mulheres, rodeadas por homens e parte de um mundo altamente masculinizado, que crescem em suas carreiras por serem altamente competentes, obstinadas e sensatas. De secretária de Harvey Specter (Gabriel Macht) a Chief Operating Officer (COO) - Diretora de Operações, de advogada a Sócia Gerente da Pearson Specter Litt, Donna e Jessica despontam como potências para meninas e mulheres telespectadoras de Suits.

Com base na construção dos episódios e das suas nove temporadas, é possível perceber que Donna passou anos sendo o braço direito de Harvey, mudando inclusive o rumo da sua carreira para segui-lo, mas sem deixar de lado suas ambições pessoais. Construiu um legado de competência, informações e responsável por aconselhar e guiar associados e advogados a terem sempre cuidado com as demandas do direito. Não obstante, para além de organizar agendas, digitalizar papéis, atender telefonemas e marcar reuniões, mostrou que “não precisou dormir com nenhum homem” para crescer e soube olhar as rachaduras e apontar as melhorias necessárias para a firma de advocacia Pearson Specter Litt (e todas as suas versões). Não à toa virou Diretora de Operações.


Jessica, advogada negra e empoderada, destacou-se como uma das melhores alunas de Direito do curso de Harvard. Passou dos níveis “mais baixos” até o alto escalão corporativo mostrando e lidando com comentários racistas e sexistas sobre sua aparência e suas habilidades (inclusive, em vários episódios tem conversas ricas em relação a essas temáticas com Rachel, interpretada por Meghan Markle). Mulher firme e de extrema inteligência, Pearson é conhecida por todos recorrerem a ela quando precisam de um conselho ou tomar uma decisão importante. Como uma espécie de “mentora”, tem seu nome na parede de umas das maiores firmas de direito em Nova Iorque. 

Ambas as personagens não vendem a imagem de que chegaram onde chegaram “apenas por mérito”. Suas falas são repletas de “acidez” ao ambiente que estão inseridas, ao comportamento masculino e a práticas feministas que ficam evidente com o amadurecimento do enredo de Suits.


Preparem-se, ALERTA SPOILER (mas vamos pegar leve, é só para mencionar algumas cenas e episódios importantes que tratam das questões que já mencionamos). Assim sendo, a título de exemplificação é factível de ver, na quinta temporada, episódio 3, “Rachel e Jessica unindo forças” para a preparação/correção do discurso da Dra. Barnes, cirurgiã chefe negra de um famoso hospital dos EUA, que sofreu diversas discriminações por ser mulher e negra, até chegar “onde chegou”, e nada mais é também que uma vultosa cliente da firma de advocacia que ambas trabalham. No entrando, na verdade, o discurso era de Jessica, para verificar se não estaria deixando a firma exposta ou falando algo que fugisse ao esperado dela. Jessica então leva Rachel para o evento que ocorrerá o discurso. Assim  ela faz contatos e ganha destaque aos olhos de Jessica. Já em uma cena, na sala de Jessica, a chefe diz para Rachel: “O seu crescimento é importante para mim. [...] Você faz eu me lembrar de mim mesma”.

Ainda na sexta temporada, no episódio 15, Donna Paulsen entrega “The Donna”, a robô inteligente criada em conjunto com Benjamin, técnico de TI e extremamente perspicaz, para Stuart Buzzini, cliente de Harvey na Pearson Spectre Litt e corretor do mercado de ações, antes de apresentar para outros possíveis investidores. Em processos de negociação, Donna e Benjamin mostram o projeto para investidores “interessados” (que na verdade não estão, só descredibilizam a Donna). No final da reunião, já saindo da sala, Donna ouve que estão só fazendo um favor, que na verdade eles só “respeitam o nome do Harvey". 


Ficou curiosa/curioso para saber mais? As 9 de Suits estão disponíveis na Netflix! (#NetflixpatrocinaasMaRIas).


Referências:

BERGAMO, Natália. O que explica o sucesso de Suits na Netflix? Gizmodo, 17 jul. 2024. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/o-que-explica-o-sucesso-de-suits-na-netflix/. Acesso em: 10 jul. 2024.

NETFLIX. Suits. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/70195800. Acesso em: 10 jul. 2024.

CORNWALL, Andrea. Além do “Empoderamento Light”: empoderamento feminino, desenvolvimento neoliberal e justiça global. Cadernos Pagu, [S.L.] , n. 52, p. 1-33, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cpa/a/9zJqwjXHP4KbgfsLRCY7WpC/. Acesso em: 10 jul. 2024.

SUITS. Adorocinema Disponível em: https://www.adorocinema.com/series/serie-8644/. Acesso em: 10 jul. 2024.


 
 
 

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